Na segunda metade do século XIX, o Acre recebia brasileiros de várias regiões, principalmente nordestinos que buscavam uma vida melhor com a extração do látex, matéria-prima da borracha. O mundo trazia transformações causadas pela Revolução Industrial, consequentemente a região atraía a atenção por ser rica em seringueiras.
O processo de industrialização torna a borracha umas das principais matérias primas para produção de calçados, pneus, etc, sendo considerada o “ouro negro” da Amazônia.
A partir de 1898, a Bolívia percebe o quanto a borracha era lucrativa e começa então os conflitos entre brasileiros e bolivianos. No ano seguinte, os bolivianos fundam Puerto Alonso, nome dado em homenagem ao então Presidente Severo Fernandes Alonso. O governo brasileiro fica inerte diante da questão, o que causou grande revolta nos brasileiros que habitavam estas terras.
Em 1º de maio de 1899, cerca de quinze mil brasileiros, sob o comando do advogado José Carvalho e com o apoio do governo do Estado do Amazonas, levantaram-se contra os bolivianos, momento este que chamamos de primeira insurreição. Porém, no dia 14 de julho de 1899, deu-se início à segunda insurreição chefiada pelo jornalista espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias. Em Puerto Alonso, agora rebatizada como Porto Acre, Galvez hasteia a bandeira acreana, proclamando a criação do Estado Independente do Acre. As autoridades federais brasileiras, ainda buscando respeitar o Tratado de Ayacucho, entendem o gesto como uma invasão territorial à Bolívia e enviam forças para dissipar o Estado Independente.
Em meios a todos os conflitos entre o Brasil e a Bolívia, surge a figura de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, à época, Ministro das Relações Exteriores. Buscando a diplomacia para forçar a Bolívia a negociar, o Barão apresentou a proposta de permuta de territórios ou de compra do Acre pelo Brasil, que assumiria o compromisso de acertar-se com o BolivianSyndicate. Ambas as propostas foram contrariadas pela Bolívia.
Enquanto isso, no Acre, o gaúcho Plácido de Castro dá início a um movimento armado contra a Bolívia, pela posse da região. As tropas bolivianas são derrotadas, e é proclamada, pela terceira e última vez, o Estado Independente do Acre.
No dia 17 de novembro de 1903 é assinado o Tratado de Petrópolis. O acordo previa a construção da Estrada de ferro Madeira-Mamoré, além de uma indenização de dois milhões de libras esterlinas, a ser paga pelo Brasil.
Passados mais de cem anos da assinatura do Tratado de Petrópolis, a população do Acre vive mudanças em todos os setores, valorizando sua cultura, sua biodiversidade, seus costumes e tradições, reverenciando sua história e aprendizados, mas também rumo ao futuro que os acreanos desejam para as próximas gerações.
Os ribeirinhos são oriundos, em grande parte, do nordeste brasileiro ou descendem de pessoas daquela região que migraram para o Acre após as agudas crises da borracha (primeira metade do séc. XX) para tentar ganhar a vida. Muitos desses homens e suas famílias fixaram-se nas margens dos rios e foram se adaptando, constituindo-se num tipo de população tradicional com estilo próprio, na qual o rio tornou-se um dos elementos centrais de sua identidade.
Por meio de unidades produtivas familiares, estabeleceram-se nas áreas de várzeas dos rios (os barrancos e praias). Esses locais são ideais para o plantio de milho, arroz, feijão, macaxeira, melancia, jerimum, batata doce, amendoim e outros produtos essenciais para sua sobrevivência.
Essas populações desenvolvem uma economia de subsistência diversificada, ao mesmo tempo adaptada e condicionada pelo ambiente amazônico, sem agredi-lo. Utilizam práticas que preservam seu habitat natural (floresta).
Seus aprendizados e ensinamentos são hereditários, recebidos com as práticas do observar e do fazer, repassados por gerações da tribo.
Para eles, a floresta e os rios representam bem mais que extração de recursos. Ela é meio de transporte, fonte de alimentação, divertimento e lazer. É o seu lar.
Conhecer como os ribeirinhos vivem e como reverenciam a floresta será uma experiência enriquecedora para os visitantes.
Nativo da região amazônica, o seringueiro é o homem trabalhador do interior das matas. Ele vive do que a floresta produz, e com ela tem uma parceria mutua de beneficiamento. Ele extrai o látex da árvore seringueira (Hévea Brasiliensis), matéria prima de todos os produtos derivados da borracha.
Em seu cotidiano, trabalha oito meses por ano, de abril a novembro, quando começa a floração da espécie. Costumeiramente, levanta-se todos os dias às três da madrugada e com a “poronga” (luminária) na cabeça e a faca de seringa na mão, sai para a labuta. Com maestria, faz os cortes nas seringueiras, coloca as tigelas e deixa o leite escorrer até encher.
Tal tarefa dura de três a cinco horas, dependendo do percurso. Quando retorna para casa, almoça e volta à floresta para colher o leite das tigelas, colocando-o num balde, feito de flandres, e retorna para casa ao entardecer.
Nas décadas de 1970 e 1980 os seringueiros sofreram toda sorte de pressão para abandonar a terra. Alguns, não resistindo, venderam suas casas e foram morar nas cidades, passando a viver de subempregos. Os poucos que resistiram, tiveram seus pertences roubados e casas incendiadas. Mas eis que surge liderança de um homem simples de Xapuri, filho de seringueiro, para ajudar a categoria na batalha pela sobrevivência. Seu nome era:
– Chico Mendes!
Ele liderou o movimento para barrar o desmatamento desenfreado da floresta amazônica, sobretudo nas áreas dos seringais. Aconselhava o povo a não pegar em armas, mas vencer com a palavra, com o diálogo e com forte sentimento pela floresta que habitava e provinha sustento dos acreanos.
Com grande carisma entre seus pares, Chico Mendes congregava os companheiros em torno de si para debater a forma mais adequada de barrar o desmatamento, surgindo, assim, “O Empate”: movimento social com o objetivo de diminuir a destruição da floresta.
Existe atualmente, no Acre, uma população aproximada de 17 mil indígenas vivendo em cerca de 200 aldeias, distribuídas em 36 terras indígenas reconhecidas. Com área estimada em 2.439.982 hectares, o que equivale a 16% da extensão do estado, localizadas nas bacias dos rios Purus e Juruá, conforme dados adquiridos por meio de pesquisa no site da Comissão Pró-Índio do Acre – CPI. A população indígena apresenta diversidade cultural e linguística marcada pela presença de 15 povos, mais os índios isolados com etnias ainda não identificadas.
Destas, várias etnias permitem visitações turísticas, os povos Puyanawa (próximos a Mâncio Lima); os Nukini (no entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor); os Yawanawa, em Tarauacá; os Ashaninka, no Alto Juruá; os Shanenawa, em Feijó e os numerosos Kashinawa, (Hunî Kuîn como preferem ser chamados).
O estilo de vida dessas comunidades é um atrativo à parte para os turistas que desejam conhecer o Acre; desde seu cotidiano normal como ribeirinhos, coletores, caçadores e pescadores de subsistência, onde extraem da floresta a maior parte de sua alimentação, a matéria prima para a fabricação do artesanato, para cerâmica, para as flechas, seivas e óleos essenciais para seus rituais de curas, em especial o “Huni” (Ayahuasca), ou Santo Daime. Os cipós, resinas e argilas são usados para artesanatos como cestarias, utensílios ornamentais e domésticos.
Todos da comunidade utilizam as pinturas e adornos corporais da floresta como urucum e jenipapo; sementes de árvores para colares, brincos, pulseiras, adornos de cabeça e outros.
Os festivais da cultura indígena realizada por esses povos é um show à parte. Muito concorridos pelas populações das cidades vizinhas e por turistas interessados em participar desse diferencial cultural, com rituais de danças, banhos, consumo de alimentos e bebidas típicos. Em decorrência do longo contato com os não-índios os indígenas assimilaram muito dos seus costumes, mas procuram manter e resgatar sua cultura promovendo seus próprios festivais, e estendendo-os aos turistas como forma de perpetuação da sua cultura e ancestralidade.